quarta-feira, junho 06, 2007

1941

- Você é de que ano, filho ?
- 1983
- 63 ?
- 83 !
- É... Vai fazer 24 ?
- É.
- 24... Ta velho, heim, filho ? 24... 1941... Eu com essa idade já estava no Banco do Brasil.

É bem tênue a linha que separa a mania de perseguição da compreensão da realidade. De qualquer modo, essa frase “Eu com essa idade já estava no Banco do Brasil” não consegue se me escapar à lembrança por sua significação. Se esse diálogo fosse com qualquer pessoa que não meu avô, eu estaria certo de ouvir “24... 1941... Idade de viadinho, né?” Mas não. Além de ouvir um “tá velho, heim ?” de uma pessoa que trata sexagenários por “garoto” ou “aquele menino”, “aquele rapaz”, ainda sou brindado com um “Eu com essa idade já estava no Banco do Brasil”. Claramente, tudo decorre da minha infeliz decisão de estudar mais que a maioria das pessoas.

Se eu fizesse mestrado em comunicação, até entenderia o preconceito, a ignorância. Afinal, no tempo dele, nos áureos tempos de Getúlio Vargas e da Consolidação das Leis Trabalhistas, em que, de fato, onerar os empregadores era uma inovação (mas essa é outra questão...), sequer existia um curso de comunicação. Mas não. Eu sou engenheiro e faço mestrado em economia (que não tivesse graduação em economia, OK, mas daí a não saber do que se trata...). E eis que ainda assim sou obrigado a ser taxado subliminarmente de vagabundo !! “Eu com essa idade já estava no Banco do Brasil” poderia muito bem ser completado com “e você nem emprego tem”. Será ?
Sem dúvida, é mais garantido um emprego público do que se aventurar a estudar por mais dois anos. Eu espero ter um prêmio pelo risco no futuro, mas começo a me questionar se o prêmio vai pagar também os dois anos de marginalização dentro de casa.

Pelo tamanho dos livros que eu estudo, me pareceria razoável concluir que tem algum valor o que eu faço. Mas aparentemente, entre ser analfabeto e julgar os livros pelo tamanho e entender o que tem dentro deles, tem um meio termo, em que se está acima disso e onde os funcionários públicos detêm a primazia da cultura e do valor.


Eis que fiz o que mais odeio em todos os blogs: falei do que acabou de me acontecer. Agora, lê quem quer. E aparentemente, você leu. Então é seu dever me desencorajar a cometer isso novamente. Mãos à obra.